O LEGADO DA ÚLTIMA GREVE COMO EXPERIÊNCIA PARA AS PRÓXIMAS LUTAS: dez breves apontamentos.
Passamos quase oitenta dias em greve contra Roseana Sarney e em defesa de 21 pontos de pauta de reivindicação como aprovação do Estatuto do Educador, recomposição da tabela salarial, aprovação da lei do piso, nomeação dos aprovados no último concurso, construção e reformas das escolas, etc. Sob o sol a pino ou as chuvas torrenciais, acampados ou em passeata, ocupando o legislativo ou enfrentando diretores truculentos, essa foi, sem dúvida, uma das mais duras greves que nossa categoria já enfrentou. Mas, para bons lutadores que somos, não basta apenas contos heróicos nem lamentações derrotistas é preciso saber tirar lições para dá continuidade ao movimento, pois como foi dito inúmeras vezes no belíssimo e emocionante ato de encerramento deste movimento “a greve termina aqui, mas a luta continua”. Vamos as nossas considerações:
1- Uma primeira lição diz respeito a questão das DIREÇÕES. Essa é uma análise que a CSP CONLUTAS tem de conjunto. Um dos grandes males do movimento sindical brasileiro é a falta de independência financeira e política da maioria das direções perante o Estado e os patrões, e a direção do SINPROESSEMA (PC do B/ CTB) mostrou isso mais uma vez. Mostraram que para manter as benesses do aparato sindical são capazes de colocar a cabeça da categoria na guilhotina.
2- Que apesar disso, essa mesma DIREÇÃO saiu mais desgastada do que quando iniciou a greve, especialmente com os educadores dos municípios do interior do Estado onde até então, resguardavam uma importante base política. Alguns destes estavam na última assembléia da categoria e viram a direção manobrar cinicamente em favor do fim da greve enquanto a maioria dos educadores votava pela sua continuidade. Desta vez, parece que há uma resposta qualitativamente superior da categoria contra esse tipo de postura. Basta lembrar que um dos seus diretores rompeu com acamarilha em plena assembléia e isso não é qualquer coisa. Cerca de 70% da grande imprensa não sarneísta do Estado do Maranhão divulgou o fim da greve como mais um golpe do PC do B.
3- Aos muitos professores da capital fica nosso alerta. Ter uma direção traidora não pode servir de pretexto para não aderir a um movimento grevista. Abster-se de grevar por esse motivo apenas fortalece o discurso reacionário da atual direção, que sempre joga a culpa de suas traições na imobilidade da categoria. O governo também se aproveitou disso para propagandear que a greve não tinha força alguma na capital.
4- Apesar disso, do ponto de vista político, saímos vitoriosos dessa greve. Novas lideranças foram se construindo ao longo do movimento, quase todas ligadas a Oposição. Quando isso acontece, o personalismo se enfraquece e o coletivo se fortalece. Mesmo sem conquistas materiais - o ônus disso cabe a direção traídora do SINPROESEMMA- o governo de Roseana Sarney saiu completamente desgastado com a categoria e com a população de maneira geral. A máscara do “melhor governo” de Roseana Sarney começou a ser arrancada a partir dessa greve.
5- Também foi acertada a defesa da unidade, inclusive com a direção do SINPROESEMMA como ponto de partida da unidade da própria categoria. Essa nossa postura (CSP CONLUTAS e o Movimento de Resistência dos Professores- MRP) contribuiu para dá um fôlego a mais a categoria para enfrentar Roseana Sarney. No entanto, ficou claro que os limites intransponíveis da atual direção do SINPROESSEMMA decorrem do caráter das organizações políticas em que seus membros militam (PC do B/ CTB), ou seja, de organizações que se apegam a qualquer custo ao aparato sindical como se fosse um bem privado e que não medem esforços para compor politicamente com setores governistas e de direita. Nem bem terminou nossa greve e o PC do B, a CTB e setores do PT estavam a todo vapor fazendo campanha para a reeleição do autoritário reitor da UFMA, Natalino Salgado do PSDB. Para esses indivíduos vale o velho ditado popular “me diz com quem tu andas que eu direi quem tu és”.
6- A posição dos estudantes também foi importante nesse processo. Ficou patente a ausência de entidades estudantis se manifestando em favor da greve. Muitas dessas entidades, por serem governistas, se posicionaram contra a greve. Algumas foram descaradamente financiadas pelo governo como o falacioso “Movimento Volta às Aulas” atrelado ao Deputado estadual Roberto Costa do PMDB. A ANEL (Assembléia Nacional dos Estudantes Livres) entidade filiada a CSP CONLUTAS, esteve na contracorrente desse processo. Foi a primeira entidade estudantil a lançar um manifesto em defesa dos educadores e manteve essa posição firme até o fim da greve. Um grande exemplo da força dos estudantes foi uma caminhada em defesa da greve com mais de três mil alunos ocorridas na cidade de Imperatriz. Uma das grandes tarefas que está colocada para a Oposição e os movimentos estudantis independentes e combativos é incentivar a fundação de grêmios estudantis, inexistentes na maioria das nossas escolas.
7- Para as oposições, CSP CONLUTAS e MRP, fica a lição de que nossa unidade deve ser mantida e fortalecida. O enfraquecimento da direção do Sindicato em suas bases políticas mais importantes abre a possibilidade de construção de um amplo movimento de Oposição para além da capital do Estado. Contudo, compreendemos que esse movimento deve ter por base um programa mínimo para a educação pública do Maranhão sem perder de vista as políticas nacionais mais gerais. Um bom combate de uma boa Oposição se faz com bons militantes. A formação política tem que ser nosso principal ponto de apoio.
8- Em razão disso, temos desacordo com a fundação da Associação de Professores levado a cabo pela companheirada do MRP e alguns professores independentes. É um erro gravíssimo começar construir uma casa pelo telhado. A última greve deu mais força para a Oposição, criando, inclusive, condições, até então inexistentes, para disputarmos a direção do SINPROESEMMA no próximo pleito, o que não quer dizer que ganharemos. A fundação da Associação é um erro político, visto que cria uma nova entidade ao invés de fortalecer a disputa pela base do SINPROESSEMA, como fizemos durante toda a greve. É também um erro tático, pois divide a própria oposição já que não é consensual. Além do mais, transforma um movimento histórico e real, O MRP, em uma entidade artificial. Contudo, desejamos boa sorte aos (as) camaradas nessa nova empreitada e nossa disposição em seguir juntos na luta, porém por fora da referida Associação.
9- Essa greve nos possibilitou vislumbrar na prática o que significa de fato ter solidariedade de classe. Se por um lado, a CUT e PT não apoiaram a greve, haja vista que são governistas até a medula, por outro, a CSP CONLUTAS não titubeou em se manter do lado dos educadores, inclusive organizando uma passeata em direção ao acampamento do professores em frente ao prédio da Secretaria de Educação, no dia Nacional de Luta contra os ataques de Dilma aos servidores públicos (28/04). Essa é uma lição importante que busca romper com o corporativismo sindical. A classe trabalhadora deve ser entendida como uma só. A nós da oposição cabe retribuir essa solidariedade quando outras categorias estiverem se enfrentando com os governos e os patrões. Um bom exemplo disso está sendo a solidariedade nacional e até internacional prestada a greve dos bombeiros do Rio de Janeiro e nela mais uma vez a nossa CSP CONLUTAS está presente com o lema “Somos todos Bombeiros”.
10- Nem bem terminava nossa greve e outras categorias de educadores de vários municípios e estados do Brasil paralisavam suas aulas. Pelas reivindicações é possível perceber que os motivos são os mesmos, a preservação da carreira de docentes que se encontra em um franco processo de desmoralização em todo país além da campanha 10% do PIB já para a educação pública. Essa constatação traz a tona uma questão importante: se os ataques se dão em nível nacional, então em quem se apoiar nacionalmente para enfrentá-los? Na verdade, essa é umas das tarefas que a CSP CONLUTAS modestamente se propõe a fazer; que é reconstruir a unidade e a auto-estima da classe trabalhadora em âmbito nacional e internacional, sobretudo depois da falência política de centrais como a CUT e a CTB que estão mais preocupadas em abocanhar os recursos do FAT ou do imposto sindical do que em defender os interesses da classe trabalhadora.
Venha conosco construir a CSP CONLUTAS-MA!
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